sexta-feira, 18 de março de 2022

Limpando o ambiente com rejeitos

Resíduos de mineração são um dos maiores contaminantes do meio ambiente. Eles podem se constituir em (i) lama, resíduos químicos e material arenoso gerados durante a concentração do minério são armazenados principalmente em barragens de rejeitos e em (ii) resíduos de terra (rochas, solo e/ou sedimentos) removidos durante o processo de escavação para acessar o minério, que se acumulam em pontas de entulho (ou pilhas de despejo). Na região amazônica a extração da bauxita é um problema particularmente sério. Assim, a possibilidade de conseguir alguma aplicação para os rejeitos da bauxita possui um importante apelo.

A bauxita é composta por alguns óxidos de alumínio, gibbsita Al(OH)3, boehmite γ-AlOOH e o diásporo α-AlO(OH), misturado com os óxidos de ferro goethita e hematita, além de caulinita, argila mineral e pequenas quantidades de anatase, que é o óxido  de titânio. No trabalho de Ref. [1] apresenta-se um estudo no qual os resíduos de lavagem de bauxita - que constituem-se em rejeitos de mineração - da região amazônica brasileira foram explorados como precursores de baixo custo para a preparação de hidróxidos duplos do tipo piroaurita (Mg - Fe - Al - NO3) para ser utilizado como nanoadsorbente. O material obtido, após uma série de caracterização de suas propriedades físico-químicas, foi testado quanto à remoção de eritrosina B de soluções aquosas. 

Os efeitos nocivos causados pelos rejeitos de mineração vão desde metais ressuspensos no ar, como poeira de produtos químicos do processamento do minério, até a contaminação do solo por metais pesados e a eventual ruptura de barragens de rejeitos, como em Mariana e Brumadinho. Portanto, a reutilização ou reconversão de rejeitos de mineração em materiais de alto valor agregado têm sido buscado nos últimos tempos. Entre os inúmeros tipos de rejeitos de mineração gerados a cada ano, os resíduos da lavagem da bauxita foram considerados, juntamente com a lama vermelha proveniente do processamento de bauxita em alumina usando o processo Bayer, como potenciais candidatos para reutilização em larga escala devido ao enorme impacto ambiental causado pela extensa mineração em todo o mundo. Os resíduos da lavagem da bauxita são subprodutos do refino do mineral de alumínio decorrente da desagregação de materiais secundários (por exemplo, argila) e separação granulométrica durante o processo de beneficiamento mineral. O alto teor de Fe, Al, sílica e, em menor grau, o Ti, permite que materiais como a lama vermelha possuam propriedades únicas (superfície de alta especificidade, porosidade, etc.) a serem sintetizados a partir de tais rejeitos.

No trabalho da Ref. [1] estudou-se a adsorção da eritrosina B (EB) por resíduos da bauxita. Este composto foi escolhido entre diferentes corantes para ser adsorvido por várias razões. Primeiramente, o EB é empregado para colorir uma ampla gama de produtos como tecidos (lã, seda e nylon), farmacêuticos, cosméticos, alimentos, etc. Apesar de seu uso quase onipresente, são conhecidos diversos efeitos prejudiciais da EB na saúde humana (suspeita de carcinogenicidade, liberação de iodo afetando a atividade da tireóide, reação alérgica nos olhos, etc). Em segundo lugar, o EB pertence a uma classe de corantes (os corantes xantenos) que são notoriamente recalcitrantes (principalmente devido à sua alta solubilidade em água) para tratamentos convencionais de águas residuais (por exemplo, lodo ativado biológico). Assim, a investigação da adsorção da EB com material nanoestruturado oriundo do resíduo da bauxita pode ser uma interessante alternativa para limpeza do ambiente contaminado com esse tipo de corante.

[1] From mining waste to environmetal remediation: a nanoadsorbent from Amazon bauxite tailings for the removal of erythrosine B dye, R.S. Nascimento, J.A.M. Corrêa, B.A.M. Figueira, P.A. Pinheiro, J.H. Silva, P.T.C. Freire, S. Quaranta, Applied Clay Science 222, 106482 (2022).