Resíduos de
mineração são um dos maiores contaminantes do meio ambiente. Eles podem se
constituir em (i) lama, resíduos químicos e material arenoso gerados durante a
concentração do minério são armazenados principalmente em barragens de rejeitos
e em (ii) resíduos de terra (rochas, solo e/ou sedimentos) removidos durante o
processo de escavação para acessar o minério, que se acumulam em pontas de
entulho (ou pilhas de despejo). Na região amazônica a extração da bauxita é um
problema particularmente sério. Assim, a possibilidade de conseguir alguma
aplicação para os rejeitos da bauxita possui um importante apelo.
A bauxita é
composta por alguns óxidos de alumínio, gibbsita Al(OH)3, boehmite
γ-AlOOH e o diásporo α-AlO(OH), misturado com os óxidos de ferro goethita e
hematita, além de caulinita, argila mineral e pequenas quantidades de anatase,
que é o óxido de titânio. No trabalho de Ref. [1] apresenta-se um estudo
no qual os resíduos de lavagem de bauxita - que constituem-se em rejeitos de
mineração - da região amazônica brasileira foram explorados como precursores de
baixo custo para a preparação de hidróxidos duplos do tipo piroaurita (Mg
- Fe - Al - NO3) para ser utilizado como nanoadsorbente. O material
obtido, após uma série de caracterização de suas propriedades físico-químicas,
foi testado quanto à remoção de eritrosina B de soluções aquosas.
Os efeitos nocivos causados pelos
rejeitos de mineração vão desde metais ressuspensos no ar, como poeira de
produtos químicos do processamento do minério, até a contaminação do solo por
metais pesados e a eventual ruptura de barragens de rejeitos, como em Mariana e
Brumadinho. Portanto, a reutilização ou reconversão de rejeitos de mineração em
materiais de alto valor agregado têm sido buscado nos últimos tempos. Entre os inúmeros
tipos de rejeitos de mineração gerados a cada ano, os resíduos da lavagem da
bauxita foram considerados, juntamente com a lama vermelha proveniente do
processamento de bauxita em alumina usando o processo Bayer, como potenciais
candidatos para reutilização em larga escala devido ao enorme impacto ambiental
causado pela extensa mineração em todo o mundo. Os resíduos da lavagem da
bauxita são subprodutos do refino do mineral de alumínio decorrente da
desagregação de materiais secundários (por exemplo, argila) e separação
granulométrica durante o processo de beneficiamento mineral. O alto teor de Fe,
Al, sílica e, em menor grau, o Ti, permite que materiais como a lama vermelha
possuam propriedades únicas (superfície de alta especificidade, porosidade,
etc.) a serem sintetizados a partir de tais rejeitos.
No trabalho da Ref. [1] estudou-se a
adsorção da eritrosina B (EB) por resíduos da bauxita. Este composto foi
escolhido entre diferentes corantes para ser adsorvido por várias
razões. Primeiramente, o EB é empregado para colorir uma ampla gama de produtos
como tecidos (lã, seda e nylon), farmacêuticos, cosméticos, alimentos, etc.
Apesar de seu uso quase onipresente, são conhecidos diversos efeitos
prejudiciais da EB na saúde humana (suspeita de carcinogenicidade, liberação de
iodo afetando a atividade da tireóide,
reação alérgica nos olhos, etc). Em segundo lugar, o EB pertence a uma classe
de corantes (os corantes xantenos) que são notoriamente recalcitrantes (principalmente devido à sua alta solubilidade
em água) para tratamentos convencionais de águas residuais (por exemplo, lodo
ativado biológico). Assim, a investigação da adsorção da EB com material
nanoestruturado oriundo do resíduo da bauxita pode ser uma interessante
alternativa para limpeza do ambiente contaminado com esse tipo de corante.
[1] From mining waste to environmetal remediation: a nanoadsorbent from Amazon bauxite tailings for the removal of erythrosine B dye, R.S. Nascimento, J.A.M. Corrêa, B.A.M. Figueira, P.A. Pinheiro, J.H. Silva, P.T.C. Freire, S. Quaranta, Applied Clay Science 222, 106482 (2022).
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